Poderão consultar alguns artigos meus saídos na imprensa portuguesa com temas ligados à minha actividade profissional.
O medo nas crianças
O medo não é uma coisa má. É uma emoção essencial que está ao serviço da nossa sobrevivência e que deve ser respeitada em imensas situações. A psicóloga Ana Moniz lembra que é o medo que ajuda a antecipar o perigo. "Se não tivéssemos medo, já teríamos morrido algures a atravessar a estrada ou a atirarmo-nos de um terceiro andar."
O medo saudável ajuda a superar dificuldades e a superar obstáculos. Quando há qualquer coisa que nos causa medo, há um foco e uma necessidade de preparação e de treino.
E quando o medo incapacita e impede que se façam coisas que é preciso fazer? Ana Moniz reconhece que há poucas coisas que conseguimos realizar na vida se não conseguirmos gerir o medo, por isso é tão importante aprender a fazê-lo. "Tudo o que nos faz sentir realizados é ultrapassar o medo."
Para ensinar uma criança a lidar com o medo é importante explicar que ter medo é natural e não utilizar frases como "um homem não tem medo" - que, além de não apagarem o medo, criam a vergonha de ter medo e levam as crianças a esconder essa emoção. O que se deve é ajudar a criança para que, "passo a passo, vá superando os medos".
https://www.tsf.pt/programa/tsf-pais-e-filhos/o-medo-nas-criancas-11804637.html
"Assertividade não é uma palavra simpática que está na moda. É a expressão última da coragem na nossa relação com os outros, explica Ana Moniz
Em "Este Livro Não é para Fracos" (Editora Planeta), a psicóloga Ana Moniz trabalha o tema da coragem nas suas várias facetas. Uma delas chama de "gentil arte da assertividade". Aqui fica um excerto do capítulo.
Por Ana Moniz
Esta história aconteceu numa empresa onde eu estava a dar um curso de formação de gestão emocional. O grupo era bastante diversificado, com mais pessoas das áreas técnicas, mas também colaboradores ligados aos recursos humanos e a área comercial.
Já estávamos na fase final do segundo e último dia, altura em que costumamos fazer uma atividade em que pomos em prática os conteúdos abordados ao longo do curso. Desta vez, o objetivo era chegar a consenso acerca de um dilema moral. Para isso, o grupo iria debater.
Os dilemas morais são situações que apelam a respostas baseadas nos nossos valores em situações limite. Nestes casos o consenso e raro e, a acontecer, e mais provável que seja obtido por pressão do grupo do que por haver realmente uma mudança de perspetiva por parte dos participantes. O meu papel como formadora e pressionar, sublinhando a passagem do tempo e a necessidade de cumprir o objetivo.
Colocado o dilema, das 11 pessoas em causa, apenas três começaram com uma opinião diferente da maioria. Dez minutos depois, já dois formandos tinham cedido. Faltava apenas convencer um, Luis (nome fictício), um engenheiro informático de 30 e poucos anos. Grande e moreno, mantivera uma presença serena e contida ao longo de todo o curso. Agora era ele o único obstáculo a impedir o grupo de atingir o seu objetivo.
A medida que o tempo foi passando, a tensão aumentou. A dada altura, o grupo continuava a interpelar Luís, mas já parecendo não querer ouvir as suas respostas. Reagiam com impaciência e pareciam mais interessados em falar. Uns apelavam à culpa pelo que estava a fazer ao grupo, outros, num tom mais ríspido ou irónico, desvalorizavam os seus argumentos. Os que não falavam diretamente com ele faziam comentários jocosos para o colega do lado ou exibiam uma expressão condenatória.
A frustração foi aumentando, o desafio tornou-se mais sério, e eu ia pressionando com o facto de o tempo estar a acabar. A dada altura, algumas pessoas passaram a usar um tom agressivo e um gesticular irritado. E muito provável que se sentissem bastante mais agitados do que acreditariam ser possível num jogo. Só Luís permanecia na mesma. Parecia estar noutro filme: rosto tranquilo, tom gentil e disponibilidade para responder as questões e criticas de que era alvo, repetindo os mesmos argumentos ou respondendo especificamente ao que lhe perguntavam. Tornava-se cada vez mais claro que a sua posição se iria manter, ao mesmo tempo que a sua postura ia ganhando cada vez mais firmeza e robustez.
O tempo acabou sem que Luís tivesse mudado a sua opinião. O grupo não tinha atingido o objetivo.
Depois de uma pequeníssima pausa para desanuviar, voltamos a focar-nos nas razões que nos levaram ao exercício: treinar a gestão emocional em situações de conflito. As perguntas foram todas para Luís, mas agora com uma curiosidade genuína: ?Como conseguiste?? ?Como e que não te irritaste?? ?Como conseguiste não ceder?? A sua resposta foi surpreendente mas esclarecedora: ?Durante 10 anos fui árbitro desportivo amador.?
Ainda que a palavra assertividade tenha entrado no nosso léxico há pelo menos 20 anos, diria que entrou mais no léxico do que na nossa cultura e modo de comunicar. Prova disso e o mau uso do termo. E comum alguém dizer: ?E muito assertivo, frontal, diz tudo o que pensa?, referindo-se a alguém impulsivo, com falta de autocontrolo emocional e que comunica quase sempre de forma agressiva. A assertividade é outra arte – a arte que Luís mostrou.
Desde a década de 1970 que se fazem treinos específicos de assertividade em psicoterapia. Pretende-se que pessoas com dificuldades de afirmação aprendam a reconhecer os seus direitos e necessidades, e como agir para que isto aconteça sem terem de ser agressivas, atropelando os direitos das outras pessoas.
Pelo menos desde os anos de 1990 em Portugal que todas as formações na área da comunicação mostram os quatro estilos da comunicação: passivo, assertivo, manipulador e agressivo.
E comum o uso de questionários de autoavaliação onde cada um se posiciona em relação a cada um dos estilos. Gostamos todos de dizer que somos assertivos mas não é isso que constato no dia-a-dia. É mais uma situação em que somos benevolentes no modo como nos avaliamos. Até porque assumir que se age de modo manipulador ou passivo soa muito mal.
?Só há dez anos e que descobri que “Não” é uma frase completa.? A afirmação e da atriz Jane Fonda. De uma forma simples também se pode definir assertividade como a capacidade de dizer não. Esta é uma das primeiras palavras que as crianças aprendem e usam, bastante, até.
Toda a gente sabe dizer não. Quem não o faz, inibe este seu direito, porque aprendeu que ele e perigoso, ou porque o medo ou a culpa o inibem. Por isso e que os treinos de assertividade em que apenas se treina uma fórmula de como dizer me parecem ter pouco impacto. E preciso cavar mais fundo, emocionalmente, revisitar as emoções e pensamentos que guiam a nossa incapacidade de dizer não, de frustrar os outros, de os desapontar.
E é muito difícil conseguir fazê-lo sem agredir a outra pessoa, sem precisar de a atacar, humilhar.
A assertividade é contraintuitiva, sofisticada. É uma força gentil que não ataca o outro, mas também não cede. Abdica de dominar e não é dominada. Procura persuadir os outros, respeitando-os. A assertividade implica a capacidade de tomar decisões e arriscar errar com todos a ver e sem depender do apoio de ninguém.
No caso de Luís, o facto de ser árbitro de futebol permitiu-lhe aprender a tomar decisões de forma autónoma – e mantê-las, mesmo em situação de grande pressão. Para o fazer é necessário muito mais do que saber as regras do jogo. É preciso confiança na própria perceção, uma bússola interna que oriente na decisão certa mantendo a independência em relação ao grupo, e robustez emocional para aceitar as consequências que, para Luís, seriam a crítica mais ou menos feroz de uma boa parte do estádio.
A falta de assertividade pode ser muito perigosa. Imagine que a pessoa que é especialista e tem mais conhecimento sobre um aspeto técnico não consegue ser assertiva. Só ela tem conhecimento para ver um risco ou um perigo; os outros não o percebem.
A semelhança da situação em que o grupo ignorou o fumo na sala de hotel, essa pessoa pode ter de agir sozinha contra todo o grupo, e por vezes também contra os superiores hierárquicos.
Muitas histórias trágicas e controversas conhecidas, sejam elas acidentes rodoviários, desastres em missões espaciais, operações militares falhadas ou abusos de poder em situações de treino militar, entre outras, ficaram a dever-se a falta de assertividade necessária para ir contra a opinião dominante. Além do conhecimento técnico, e necessária coragem para fazer frente à autoridade ou a um grupo. E para o conseguir tem de se estar preparado para ser posto em causa.
Assertividade não é uma palavra simpática que está na moda. É a expressão última da coragem na nossa relação com os outros."
Artigo de A Nossa Prima:
https://anossaprima.sapo.pt/inspirar/artigos/a-gentil-arte-da-assertividade?fbclid=IwAR39jhHa2IplX4h5nmvl-elyJgkJM3eWhix25GQ9rNPoIEK-DOHSLR2CNnA
Quando uma pessoa ou uma equipa quer melhorar em alguma área, precisa em primeiro lugar de perceber qual é o ponto a que quer chegar. A seguir vem a escolha de qual o melhor caminho para o fazer e depois começa o verdadeiro. A palavra coaching tornou-se conhecida por todos mas nem sempre pelas melhores razões. Em muitos casos está associada a práticas sem validação científica ou praticada por pessoas sem habilitações ou experiência profissional para o desenvolvimento de uma relação de ajuda. Como psicóloga e especialista em processos de...
“The purpose of psychotherapy is to set people free” Rollo May Começo por dizer que a minha psicoterapia foi um dos melhores investimentos que fiz na vida. Foi difícil, exigente, passei por várias fases e tive de me confrontar (ainda tenho) com os meus pontos de dor e com os meus lados menos agradáveis e que eu preferia ignorar. E tem tanto de difícil como de libertador, reconfortante, revigorante. Tal como afirma Rollo May, a psicoterapia é um caminho de liberdade, de afastamento das regras, ideias e reações que não escolhemos, numa procura de quem somos....
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